Texto produzido pelo prof. José Damas Nogueira
Membro efetivo da Academia Caçapavense de Letras,
Consta que antes da existência da
AA Caçapavense já havia na cidade um outro
clube, dedicado ao futebol, entidade denominada
Sport Club Edu Chaves. Realmente eu próprio sabia disso
há anos, por informação de meu pai, que integrou o
time como jogador da defesa, além de uma
estimada foto que possuo, de uma partida de futebol
realizada a 25/04/1915 do Edu Chaves contra o Santa
Cecília Foot-Ball Club, este dirigido pelo famoso “Mané
Lopes” e ainda de notícia publicada no jornal “O
POVO”, da época, que dá até a escalação dos dois
times.
Em janeiro de 1915 a AAC mudou
sua sede social provisória no “sobrado” para um
prédio na Praça Visconde do Rio Branco, numero 16 e nesse mesmo ano ela
conseguiu comprar e mudar seu campo de futebol para o espaçoso terreno, que
marginava a Rua Cel. Manoel Inocêncio com a Rua Comendador
João Lopes, que serviu muito bem, por anos
seguidos, para a prática do futebol.
Em 1929 a A.A. Caçapavense
conseguiu comprar o antigo prédio da Rua Cap.João Ramos,
de propriedade do Sr.João Prudente,
onde há anos funcionava o Cine Central, que foi
desativado e, após algumas adaptações necessárias,
tornou-se a terceira sede social e agora própria,
para alegria de todos (hoje, o local é ocupado pela agência do Banco do Brasil). E a entidade, de muita história
que não cabe neste resumo, realizou-se plenamente
com suas festas e futebol, tendo também passado por
crises financeiras em 1948/49 e 1970/75, quando
teve que vender sua sede social e edificar outra na
Av. Cel. Manoel Inocêncio, onde ainda permanece.
Do mesmo ano de 1913 temos que
nos reportar a dois assuntos raramente lembrados – o
Saladeiro e a Fecularia Matarazzo – e até
completamente desconhecidos de muita gente.
O primeiro iniciou-se com a
chegada em Caçapava de mais de 300 gaúchos, portando
ponchos, bombachas, além de facas e
punhais, causando muita confusão, liderados pelo chefe,
Coronel João Francisco Pereira de Souza, que montaram o
PACKING HOUSE CAÇAPAVA ou o “Saladero” (Saladeiro),
para produção de charque (carne-seca),
no local amplo próximo à estrada de ferro, no
bairro da Vera Cruz, pelos lados do Rio Paraíba (hoje ali é
a Fazenda Esperança).
A indústria, após se
instalar iniciou a produção de “carne-seca” (charque ou
charqueada) e carne salgada de bovinos,
destinada à exportação. Existe ainda a variante da linha
férrea da Central, que ia até o interior do Saladeiro para
receber a carga que era exportada para todo o
Brasil.
Iniciados os trabalhos com o
abate de dezenas de cabeças de gado semanalmente,
chegou rapidamente a ultrapassar 500
bovinos por semana, tudo exportado.
O povo comparecia ao Saladeiro e
recebia, de graça, as vísceras todas (fígado,
“bucho” ou “60 folhas”), rins, pulmões ou “bofe”,
o sangue e partes de carne que não se prestavam
para o charque, além dos ossos, ainda com alguma carne e a
cabeça do boi), por muitos anos. As peles dos bovinos eram
curtidas e vendidas para diversos fins.
Em 1915 a firma foi arrendada
pelos nossos caçapavenses, os irmãos Moura (filhos do
Dr. José Augusto de Oliveira Moura), e o
Saladeiro continuou suas atividades até 1928...Existe ainda no final dos trilhos
da variante da linha férrea a máquina “Maria
Fumaça”, agora enferrujada e imprestável.
Neste mesmo local, a partir de
1928, se instalou a Fecularia Matarazzo, produzindo
amido de milho, maisena e outros derivados, industrializando
a mandioca e milho e deles extraindo
sub-produtos.
O mesmo desvio da linha férrea (a
variante) era usado pela Fecularia, facilitando a
chegada dos vagões de exportação de
mercadorias. Trabalhavam o dia todo e eram visíveis as
grossas camadas de fumaça expelidas pela
chaminé dos fornos utilizados no fabrico de maisena, sagu, amido,
farinha de milho, etc.
O fechamento da Fecularia se deu
durante os anos de 1937/39 (período inicial da
Segunda Guerra Mundial), quando os italianos sob
o domínio absolutista do fascista Benito Mussolini
apoiaram as atrocidades de Hitler. Os
imigrantes italianos, aqui no Brasil, por motivos
políticos foram tenazmente perseguidos e seus bens
confiscados, levando ao fim da Fecularia Matarazzo.
Foi no ano de 1915 que se
intensificaram as atividades da construção do prédio que
serviu de local para funcionar a FABRICA DE
TECIDOS SÃO JOSÉ, pertencente a acionistas da Cia.
Industrial Limitada.
O maquinismo já estava montado no
enorme prédio, limitado pela Rua José Bonifácio e
Marechal Deodoro, paralelo à linha férrea da
Central do Brasil, pois as obras se iniciaram em 1914. No
final do mês de maio de 1915 foi levantada a colossal
chaminé de ferro e a Fábrica começou suas atividades
em setembro. Os trabalhos de produção se
intensificaram, dando emprego a centenas de caçapavenses,
até fins de 1917, quando, por motivos ignorados, a
produção parou e o prédio, sem uso, foi vendido ao
Exército Nacional, em 1918, pelo preço de 120 contos de
réis.
Então, no mesmo prédio, após
reformas necessárias, se instalou desde 13/03/1918 o
nosso 6º Regimento de Infantaria (agora 6º Regimento Ipiranga).
Em 1925, a Matriz Velha, a 2ª, remodelada desde 1885, bem como
a casa paroquial, já estavam precisando de urgentes reparos.
O Padre José Benedicto Alves
Monteiro veio designado como pároco, nessa data,
recebendo a incumbência da reconstrução total
da igreja matriz. Seu antecessor, Padre Rosa Góes,
já havia tomado seguras providências angariando
donativos em material e dinheiro.
O novo vigário prosseguiu o
intento proposto, sendo certo que ele juntou muito
dinheiro oriundo de contribuições mensais de seus
paroquianos, por anos seguidos.
Conseguiu, aos poucos, edificar
as partes novas da igreja, levantar a grande torre,
encimada pelo glorioso São João Batista,
remodelar o interior e instalar os belos vitrais,
lindamente coloridos, que adornam as amplas janelas laterais de
ambos os lados da atual Igreja, neles perpetuados os
nomes dos seus benfeitores (o conjunto é formado por
quatorze (14) iconografias artisticamente pintadas).
Até 1935 foram dispendidos mais
de quinhentos contos de réis conseguido no seu afã
de reunir numerário para tocar as obras.
Em 1938 a Igreja Matriz, a
terceira, já estava completamente edificada, faltando as
pinturas e as decorações, quando ele foi
substituído pelo Padre José Maria da Silva Ramos que
dessa data até 1944 trabalhou firme, prosseguindo a
realização do sonho.
Em 1944 voltou o Padre Monteiro,
concluindo os trabalhos finais, até que conseguiu
em 1950 entregar aos caçapavenses um
magnífico templo, admirado por todos até em nossos
dias, inclusive por turistas de diversas localidades,
que aqui aportam para visitá-lo.
No ano de 1950 houve brilhantes
festividades comemorando o término da construção,
entretanto, os convites e programas referentes à
efeméride erradamente anunciavam a comemoração do
Primeiro Centenário da Paróquia, num erro
de 37 anos.
Sim, porque a paróquia havia sido
criada a 18/03/1813 e seu centenário primeiro
concluiu-se em 18/03/1913, ou seja, 37 anos
antes. O certo era comemorar o Primeiro Centenário da
Transferência da Sede de Caçapava Velha para a Capela
Nova de São João Batista, em decorrência da Lei
Provincial no 1, de 03/05/1850.
Entretanto, as festividades
transcorreram com muito brilho e o povo queria mesmo
era festejar o auspicioso fato de a construção
da Igreja ter terminado com êxito...
Desejamos, entretanto, encerrar
essa Síntese Histórica, que já se prolonga demais,
visto que o tempo urge e há ainda muita coisa a ser
comentada.
Gostaríamos de encerrar com o
capítulo referente à “Casa da Laranja”, eis que é um
episódio da história de Caçapava que também
passa despercebido por muitos...
O casal Alfredo Costa e senhora
adquiriram a fazenda “Barranco Alto” no final do
século 19, de ótimas e férteis terras, ali
morando com os filhos.
Aí o casal de ascendência
portuguesa preparou as terras para o plantio de cerca de 2000
mudas enxertadas de laranjas “Baianas” e “Pêra do
Rio” , em 1910/13. Passado o tempo necessário foi um
verdadeiro espetáculo ver o imenso pomar cobrir-se
de excelentes frutas, vendidas a um único comprador
pelo ótimo preço de 4 contos de réis.
A auspiciosa notícia da colheita
e venda rapidamente se espalhou e muita gente se
interessou pelo plantio de laranjas. Com a farta produção os
compradores apareceram e nossas laranjas passaram a ser
exportadas, sendo preparadas e acondicionadas a mão
em caixas de madeira, a partir de 1925 até ao auge
em 1932/1933.
Comprovado que o negócio era
vantajoso os irmãos Mariano Antônio e Joaquim de
Barros, ambos Alcântara, mandaram construir um
prédio-galpão bem aparelhado para o preparo das
frutas cítricas, devidamente embaladas, prontas para serem enviadas ao exterior.
O prédio ficou conhecido como a “Casa da Laranja”, situado na Rua Prudente de Morais, nos fundos do campo de futebol da A.A. Caçapavense e, com o aumento das vendas, conseguiram autorização para ser anexados dois vagões de carga no trem noturno, da época da E.F.C. do Brasil, que levava as laranjas a S.Paulo e porto de Santos e exterior.
O trabalho prosperou, muitos empregos surgiram e durante anos as laranjas foram um excelente negócio, porém, durante a Segunda Guerra Mundial, 1937/45, a “Casa da Laranja” não pôde mais exportar as frutas, impedido o comércio em virtude do conflito.
Porém, a firma recebeu nova função – a de extrair a essência da casca de laranjas de todas as espécies, o citronel ou citronela, destinada a ser aplicada na indústria bélica de pólvora, com a participação de várias firmas interessadas.
Extraído o sumo ou essência das frutas, de milhares e milhares delas, apenas levemente roçadas, ficava ainda a parte branca que cobre a fruta e, portanto, bem protegidas, mas só por pouco tempo...
Eram distribuídas de graça a quem desejasse, pois não podiam ser guardadas, visto que azedavam e tinham que ser consumidas logo ou elas eram perdidas, tornando-se azedas e podres.
Todos podiam levá-las, em qualquer quantidade e chupá-las deliciosamente e ainda sem custo algum...! O tempo, entretanto, passa... e tudo se acabou nos anos finais de 1940 e início de 1950.
O prédio desativado serviu para abrigar a Escola Artesanal de Caçapava, desde 09/04/1951 e que, após 1963, se mudou para o Jardim Santo Antônio, local onde ainda se encontra como a Escola Técnica Estadual (ETE) “Machado de Assis”.
Temos ótimas fotos relativas à “Casa da Laranja” conseguidas através do amigo Miguel Batalha e com seu pai, o Sr. Luiz Batalha, que trabalhou muitos anos como motorista das viaturas da firma, mantivemos longas conversas, onde tudo o que foi descrito está confirmado.
Muita coisa não foi sequer mencionada... Resumo é assim mesmo: podemos falar de muitos assuntos, mas não é possível comentá-los e menos ainda aumentar -se o texto, pois, então, não mais seria uma síntese...
Muita coisa não foi sequer mencionada... Resumo é assim mesmo: podemos falar de muitos assuntos, mas não é possível comentá-los e menos ainda aumentar -se o texto, pois, então, não mais seria uma síntese...
Nada foi detalhado, nenhum assunto foi desenvolvido; outros, nem foram citados: o 1º Mercado Velho; o 2º, de 1938 a 1946; o “Theatro Municipal” e os nossos 12 cinemas; o Grupo Escolar “Ruy Barbosa”; o Jardim da Infância da Dona Marocas; o glorioso 6º Regimento de Infantaria, agora 6º Regimento Ipiranga e a nossa 12ª Brigada de Infantaria Aeromóvel; a “Casa de Pedra” foi esquecida e as Manifestações e Aspectos Culturais, importantíssimos pelo seu conteúdo, sequer puderam integrar este resumo; não foi lembrado o nosso antigo Ginásio Municipal, de 1938/39, atual EE “Dr. José de Moura Resende”, assim como não se cogitou da Escola Artesanal, de 1951 até a ETE “Machado de Assis”, nem do 2º e 3º Grupos
Escolares da cidade, a EE “Prof. Lindolpho Machado” a EE “Prof. Zélia de Souza Madureira”.
Escolares da cidade, a EE “Prof. Lindolpho Machado” a EE “Prof. Zélia de Souza Madureira”.
O que dizer então de não poderem ser inseridos neste trabalho as centenas de fotos e documentos históricos, que seriam a alegria dos olhos de todos e momentos ternos de indescritíveis recordações...
Quem sabe, em alguma nova ocasião oportuna poderemos nos reencontrar.
Quem sabe, em alguma nova ocasião oportuna poderemos nos reencontrar.
Até breve!
Caçapava, setembro de 2008
Caçapava, setembro de 2008
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